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sábado, 29 de julho de 2023

Empatia - Velha dica, sempre esquecida

 As instituições espíritas estão vivendo momento difícil de sua história: a sensibilização geral da própria família espírita para o efetivo estudo e comprometimento com a lúcida proposta apresentada pela Doutrina Espírita.

Costuma-se dizer que falta trabalhador, que muitos não comparecem nem ajudam quando mais se precisa, que em muitos casos há uma debandada geral, que falta responsabilidade e por aí vai...  

Deixemos esse aspecto negativo de lado. Cada criatura é dona de seus próprios rumos e não temos o direito de questionar as opções. Temos é que fazer a nossa parte. 

Todavia, há um segredo esquecido. Da entrevista com Sandra Borba – renomada expositora espírita de Natal-RN, publicada na revista eletrônica www.oconsolador.com, edição 98 de 15/03/09, extraímos uma das perguntas e respectiva resposta para apreciação do leitor e objetivo da presente abordagem: 

O Consolador: Há uma maneira de sensibilizar mais a família espírita para o estudo e comprometimento com a proposta espírita?
 
Resposta: A instituição espírita deve se tornar uma comunidade educativa, pela própria natureza pedagógica da Doutrina. Obviamente que não lidamos com processos invasivos na intimidade dos frequentadores das casas espíritas, mas podemos sensibilizar as famílias e os trabalhadores através das diversas atividades já desenvolvidas no interior das instituições, sem que nos sintamos inibidos de buscar novas práticas, respeitando o bom senso que deve caracterizar nossos processos comunicativos e interativos. Existe algo, porém, que precisa urgentemente ser repensado entre nós: a casa espírita não é apenas o ponto de encontro de trabalhadores, mas a escola de almas de irmãos que necessitam estreitar laços de amizade, inclusive fora do espaço institucional.
 
Os grandes ou pequenos problemas de relacionamento interno, nas instituições, podem ser atenuados e até resolvidos se pararmos para pensar um pouco no final da resposta de Sandra: Existe algo, porém, que precisa urgentemente ser repensado entre nós: a casa espírita não é apenas o ponto de encontro de trabalhadores, mas a escola de almas de irmãos que necessitam nossos laços de amizade, inclusive fora do espaço institucional.

Eis o detalhe: almas de irmãos que precisam estreitar laços de amizade, inclusive fora do espaço de convivência do trabalho espírita. Vivemos apressados, correndo, apenas vinculados à rotina do trabalho, esquecendo-nos de estender as mãos e conviver também fora do ambiente físico da instituição a que nos vinculamos. 

Precisamos nos colocar mais na condição de irmãos, seres humanos com suas lutas humanas semelhantes, ao invés de nos postarmos simplesmente como orientadores da vida alheia, quando na verdade igualmente somos todos necessitados de orientação. 

E como seres humanos precisamos todos uns dos outros. Mais do que imaginamos. Esse toque de fraternidade é o detalhe para mutuamente nos sensibilizarmos. Essa atenção provinda da fraternidade, da empatia, eis o segredo de aperfeiçoarmos os relacionamentos.

Orson Peter Carrara – Velha dica, sempre esquecida – O Consolador – Nº 143 – 31/01/2010


Empatia - Quem não se comunica ...

Há 152 anos a Doutrina Espírita vem consolidando a sua credibilidade no mundo, sobretudo porque as descobertas científicas têm caminhado, passo a passo, com muitas das verdades já há tanto propagadas por Kardec. Avançamos. Se ontem as pessoas corriam dos espíritas, hoje correm para nós, atrás de respostas que só “O Consolador” pode dar.

Mais que nunca, é preciso divulgar o Espiritismo. Mas divulgar não é empurrar material doutrinário goela abaixo. É antes de tudo comunicar-se, estabelecer empatia imediata com o receptor, despertar interesse inicial, contínuo e gradativo pelo material apresentado, é fazer-se entender e sentir. Assim, há que se ter uma abordagem minimamente adequada, para que se consiga tocar a alma e chegar à razão.

Neste ponto, faz-se urgente uma reflexão. Conseguiremos nós, espíritas, alcançar corações e mentes, em pleno século XXI, sem atualizar nossas formas de comunicação?

A pretexto de fidelidade doutrinária, campeia entre nós um linguajar monótono e obsoleto. Incrivelmente, ainda há quem acredite que ser fiel à codificação se resume à manutenção da linguagem utilizada pelo codificador no século retrasado ou, quando muito, à continuidade das mesmas formas de expressão utilizadas nas décadas de 40 a 60 – apogeu da produção mediúnica de Chico Xavier – causando a incômoda impressão de que estamos parados no tempo.

Outro dia, lendo o editorial de um periódico federativo, dei de cara com a palavra “efemérides” - entre outras expressões arcaicas que recheavam o texto - e fiquei a pensar que se a mim, que já passei dos cinquenta, soa estranho, imagine ao pessoal da nova geração!... Tendo que dar tratos à bola para decifrar o que significa tal “palavrão”, já praticamente extinto nos dias de hoje. Essas situações comprometem, de pronto, a continuidade da leitura, pois a chamada leva a pressupor – e com razão – um texto maçante. Quem vai se interessar por matérias cujos termos remetem ao tempo dos nossos bisavós, o que – com todo o respeito que devemos aos nossos ascendentes – nada tem a ver com os anseios do momento presente?

Como podemos querer o aval da comunidade científico-tecnológica, se em plena era virtual ainda insistimos em chamar planeta de “orbe”, só porque Emmanuel, na década de 50 – quando esse termo ainda estava em uso – assim o fez? Se, rebuscadamente, nos referimos à sociedade “hodierna” – citada por Joanna de Ângelis – quando poderíamos simplesmente utilizar o termo “moderna”, de muito mais fácil compreensão? Passa da hora de aposentarmos os ósculos, amplexos, destras e outras expressões “jurássicas”. Ou a gente acompanha os novos tempos ou vai ficando para trás, sob a pecha da alienação.

Não pretendemos aqui fazer a apologia das gírias, do modernismo inconsequente. Mesmo porque a palavra escrita ou falada na norma culta, dentro de uma relativa formalidade, é passaporte certo para a credibilidade. Mas precisamos repensar o nosso linguajar enquanto palestrantes e redatores espíritas, para que não nos escondamos numa espécie de dialeto esquisito que só leva à estagnação e ao isolamento. Se não devemos vulgarizar a palavra a pretexto de atingir a massa, tampouco devemos permanecer como se o tempo não tivesse passado para nós.

Se tudo o que mais almejamos é universalizar o conhecimento espírita, por que não utilizar uma linguagem mais coloquial e interessante? Desde que se tenha o zelo necessário para que não haja distorções no conteúdo doutrinário, por que não adaptar textos antigos para uma linguagem moderna, facilitando assim o seu entendimento às novas gerações e àqueles que têm maior limitação intelectual?

Alguns companheiros são resistentes às adaptações, por entender que a manutenção de termos difíceis provoca um enriquecimento da linguagem. Mas, imaginemos alguém, ainda engatinhando no conhecimento espírita, que, buscando consolo num momento de dor, se depara com uma linda e consoladora mensagem, porém, cheia de termos rebuscados, que exijam o uso do dicionário. Esta interrupção certamente esvaziará o impacto emocional do conteúdo, esfriando o coração do leitor ante a necessidade de parar e buscar tantos sinônimos. Emoção cortada, alma frustrada, objetivo perdido.

O nosso compromisso é com a formação espiritual e não acadêmica. Embora tenhamos o dever de nos expressar elegantemente e estimular doutrinariamente o aprimoramento do saber, contribuindo assim – e muito – também para a intelectualização do ser, o que precisamos entender é que, definitivamente, trabalhar aquisição de vocabulário e erudição não é a nossa prioridade. Nossa prioridade é esclarecer e consolar, com vistas ao progresso moral dos seres, e ninguém esclarece ou consola sem usar de clareza e simplicidade. Portanto, didaticamente, simplifiquemos a nossa fala, a nossa escrita, façamos o nosso papel de facilitadores das verdades espirituais e deixemos às escolas do mundo o papel que lhes cabe.

Sob pena de perdermos o trem da história, há uma contradição que precisa ser vencida pelo movimento espírita. Uma doutrina evolucionista por princípio não pode e não deve ficar parada no tempo. Termos novos são criados a todo o momento para coisas novas. Termos antigos são substituídos a todo instante por outras nomenclaturas. Caminhamos, hoje, para uma democratização do conhecimento. O que antes era privilégio de uma casta intelectual, agora é direito de todos. Isto significa distribuição mais justa da informação e oportunidades igualitárias, correspondendo aos ideais de justiça e igualdade defendidos pelo Espiritismo. Então, não faz sentido uma elitização que só retarda a colheita dos frutos semeados.

O mundo gira, o progresso está aí, e a lei é de evolução em todos os sentidos. Descomplicar é a palavra de ordem para quem quer “colocar a candeia sobre o alqueire”. Não há mais espaço para termos antiquados, que soam até mesmo de forma ridícula a quem os lê. É inadiável escolher. Ou continuamos a bater na tecla de uma erudição exibicionista a fim de, aqui mesmo, receber o galardão, ou optamos pela pedagogia simples de Jesus, cujas parábolas demonstram estratégia impar para alcançar o interesse e o entendimento daquela população ainda tão rudimentar, quanto às verdades espirituais que veio trazer.

Nesse momento difícil de transição, em que milhares de irmãos nossos precisam, desesperadamente, estabelecer um link emocional e cognitivo imediato com as verdades consoladoras do Espiritismo, não há mais lugar para comportamentos arraigados a tradições pueris.

Deixemos fluir a simplicidade culta que nos fará fiéis articuladores da verdadeira divulgação, aquela que de fato acontece, que dá resultados palpáveis, pois fala simultaneamente ao cérebro e à sensibilidade. Só assim estaremos cumprindo efetivamente o papel de colaboradores do mundo invisível, junto ao aprimoramento moral contínuo da sociedade na qual estamos inseridos, aqui e agora. Coloquemos em prática, na íntegra, as recomendações contidas no cap. XII, item 10, do ESE, à página “O Homem no Mundo”, que nos chama à realidade temporal em que vivemos na Terra, ao conclamar: “Vivei com os homens do vosso tempo, como devem viver os homens”.

E – há que se admitir – numa vida de interrelação, respeito e comunicação fazem toda a diferença.

Joana Abranches – Quem não se comunica – O Consolador – Nº 133 – 15/11/2009

Empatia - Em torno da dor

 “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a consolação, que nos conforta em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus, possamos consolar os que estão em qualquer angústia.” (2 Cor 1, 3-5)

Deus consola os humildes. Não que prefira uns em detrimento de outros. Já diz a sabedoria do evangelho: Deus não faz acepção de pessoas. É que somente os humildes conseguem perceber o consolo.

Assim, Deus transmite a consolação para todos os seres, com a mesma força, com a mesma “quantidade”, com o mesmo amor, mas poucos são os que a compreendem. Segundo Emmanuel, se aprendermos a compreender, e exercitarmos essa virtude, estaremos, já, amando. A compreensão é um passo para a conquista da indulgência, característica dos protetores.

Paráclito é designação do Espírito Santo. Paráclito, etimologicamente, significa: “aquele que permanece ao lado”; daí ser interpretado como “Consolador”, como muitas bíblias mais antigas interpretaram. No entanto, esse termo grego, com o tempo, passou a designar “advogado”, como grande parte das bíblias mais modernas interpretam.

A Vulgata, tradução latina do texto grego, contorna o problema não traduzindo o termo, satisfazendo-se com a similitude entre Paráclito e Espírito Santo. Segundo Emmanuel, a designação Espírito Santo significa uma plêiade de Espíritos redimidos que trabalham em nome de Jesus.

Toda aquisição deve tornar-se útil para nossos irmãos. A nossa experiência com a dor deve ser compartilhada. Se nossa experiência for de consolação, estaremos em condições de comunicar o consolo recebido. Paulo deixa claro que todo sofrimento deve ser valorizado pela confiança. O sofrimento do cristão é um privilégio. “... porque a vós vos é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por ele sofrer.” (Fl 1, 29)

Somente quem sofre com confiança, resignação e paciência, sofre por Jesus. É necessária a empatia com o coração que sofre para comunicar algum consolo. E só é capaz de empatia quem entende a dor do outro pela própria dor. Daí a importância dos grupos de apoio.

“Fundamentalmente considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e educação.” E “a dor segue todos os nossos passos: espreita-nos em todas as voltas do caminho. E, diante dessa esfinge que o fita com seu olhar estranho, o homem faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?” (O problema do ser, do destino e da dor, de Léon Denis, cap. 26)

Os cristãos são acusados de fazer apologia da dor. A própria glória de Jesus foi conquistada com a sacrifício da própria vida. O que valorizamos, porém, não é a dor em si, e sim a experiência edificante que ela possibilita.

Se bem vivenciada, a dor nos enriquece com virtudes, em especial a humildade. Ela é importante por ser um meio de reparação de atos equivocados e fonte de esperança.


Editorial – Em torno da dor – O Consolador – Nº 472 – 03/07/2016

Empatia - Tessituras

“Se não quisermos permitir que o mundo mergulhe no caos, devemos libertar o amor preso no coração de todos os seres humanos.” – Nikos Kazantzakis.

A vida é música contínua, tessituras de forças e ritmos invisíveis que impulsionam as criaturas e suas ímpares jornadas rumo à evolução e à felicidade.

Por isso, sem amor e altruísmo a existência se decompõe e estiola e, desse modo, passamos a viver aterrorizados de olhar para dentro e, sem contato interior, teremos certamente pobres referenciais para compor a própria biografia e desfrutar de um apoio externo mais adequado às nossas necessidades evolutivas. 

Mas de uma maneira muito clara, ainda que muitos duvidem, a evolução remete necessariamente à espiritualização, o que, por sua vez, significa para a humanidade atual o surgimento gradativo de um novo “tipo humano”. Logo, indivíduos mais percucientes, intuitivos, sensíveis, cooperativos e, em consequência, menos rudes, obtusos, egoístas, competitivos ou indiferentes. Ou seja: o ser humano peculiar a este milênio está, e estará, a elaborar seu registro biográfico principalmente por meio de comportamentos e atitudes que revelam Deus de forma muito mais efetiva.

E se por enquanto, conforme a antropologia e a psicologia mostraram, os humanos tendem a tratar os “de fora” pior do que os membros do seu próprio grupo, porque, segundo Eibe-Eiberfeldt (1989), a socialidade afiliativa (laços de pertença ao grupo) que governa as relações grupais humanas decresce à medida que o grupo aumenta (1), vivemos agora num mundo em que as questões emocionais e os dramas éticos estão globalizados e, no geral, isso demonstra que a situação da humanidade modificou bastante o cenário evolutivo dos milênios anteriores.

Assim, embora continuemos a escolher pertencer a pequenos grupos e as nossas tendências altruístas se inclinem a beneficiar em primeiro lugar os nossos familiares e, na sequência, o nosso grupo, para somente então a comunidade, os movimentos de solidariedade coletiva a que assistimos com frequência nos diversos locais do mundo, a reflexão contemporânea sobre o inexorável direito aos direitos, os dilemas socioambientais refletem felizmente a presença de uma compreensão mais compassiva, mais alargada, acerca do sentido coletivo da vida. Por sua vez, isso nos serve desde já de base cognitiva excelente para articular e eleger ações cooperativas como soluções para os problemas e desafios que desagregam a nossa Casa comum.

De outro lado, mesmo que no cenário global ainda o vínculo moral e afetivo seja frágil, as pessoas buscam cada vez mais estender sua capacidade de empatia ao conjunto do planeta.  
Assim, caso concordemos com o biólogo e pesquisador holandês, Frans de Waal, quando ele afirma que “os humanos são ricos de tendências sociais”, creio que começamos de fato a perceber nas relações humanas a presença cada vez mais dominante de altruísmo, bondade, ou seja, de comportamentos de cooperação, respeito, solidariedade. E isto em silêncio avisa que “existe outro mundo, que é este aqui”...

Com isso naturalmente podemos pressentir que estamos diante de um modus vivendi cujas tendências altruístas são espontaneamente aptas a transcender os muros de nossa casa individual para abarcar e afetar, positivamente, a comunidade mais alargada, pois através de conquistas evolutivas (biológicas e sociais) estamos no tempo de agora mais cientes de que nosso futuro comum depende, enquanto experiência de significado, da realidade que nos pertence como seres-em-relação.

Não é preciso dispender muito esforço para que notemos o quanto a compaixão, por exemplo, é uma emoção fundamental para nossa sanidade mental, especialmente para quem vive ilhado nas grandes cidades e seus (nossos) entulhos de miséria – uma financiadora cruel da violência e da intolerância.

E, sobretudo em dezembro, quando nos abrimos ao céu luminoso da Natividade e mesmo às promessas plurais para o novo ano, creio que pressentimos que estar consciente hoje em dia quer dizer estar consciente dos pensamentos que se pensam, das emoções que se sentem e das ações que se executam, ou seja, exercitar com gentileza e perseverança cotas cotidianas de amor, bondade, altruísmo, respeito, compaixão, pois são elas que nos ajudarão a valorizar nosso viver e o mundo de relações em que nos movemos.

Apenas porque ser amoroso vale a pena, são o amor e os ritmos emocionais e éticos a ele agregados que abrem a perspectiva de um entendimento muito mais profundo e suscetível à empatia e à indulgência entre seres humanos. E, ao fazer isso, ao menos sentimos, e de verdade, que estamos a viver nossa vida bem e que de fato temos uma conexão efetiva com uma Ordem maior de significado – um canal com Deus: Ele que atravessa, por amor, a história e insufla vida à alma individual e ao conjunto do planeta e dos mundos, naturalmente solidários.

(1) Trabalhos recentes revelam que o grupo humano natural inclina-se a ser aproximadamente de 100 a 150 indivíduos; e, acima desse número, o anonimato tende a se estabelecer. E também, no ser humano, os comportamentos positivos, baseados na empatia, são extremamente precoces (Montagner, 1988).

Eugênia Pickina – Tessituras – O Consolador – Nº 347 – 26/01/2014

Referências:

Eiber-Eiberfeldt, I. Human ethology. NY: A de Gruyter, 1989.

Montagner, H. L’áttachement. Les débuts de la tendresse. Paris: Odile Jacob, 1988.

Waal, F de. Primates and philosophers. How morality evolved. Princeton: Princeton University Press, 2006.


Empatia - Tormentos da obsessão

A obsessão é enfermidade de origem moral, exige terapêutica 
específica radicada na transformação espiritual para melhor, de todos 
aqueles que lhe experimentam a incidência

“Tormentos da Obsessão” é o título de um dos livros de Manoel Philomeno de Miranda, psicografado por Divaldo Franco. Não é obra para ser lida de ânimo ligeiro, mas para ser minuciosamente “dissecado” e reestudado em grupos de estudos, em especial por aqueles que se dedicam aos misteres da mediunidade, ou seja, ao Espiritismo Prático.

Constituído por trezentos e vinte e quatro páginas emolduradas por capa policromática, contendo surpreendentes e dolorosas revelações, essa obra situa-se como um verdadeiro marco na bibliografia espiritista. Ali os Espíritos de escol como o Dr. Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo, Dr. Ignácio Ferreira e outros, deixam suas luminosas pegadas muito bem realçadas por Manoel Philomeno de Miranda. 

Dentre as muitas revelações graves que nos devem remeter a profundas reflexões sobre a nossa performance espírita, destacamos, em letras garrafais e negritadas, esta frase de Eurípedes Barsanulfo, exarada à página trezentos e dezenove: “Os espíritas estão desencarnando muito mal”.

“Que estão fazendo aqueles que se comprometeram amar, ajudar-se reciprocamente, fornecendo as certezas da imortalidade do Espírito e da Justiça Divina? Enleados pelos vigorosos fios da soberba e da presunção, creem-se especiais e dotados com poderes de a tudo e a todos agredir e malsinar.

Como consequência dessa atitude enferma, estão desencarnando muito mal incontáveis trabalhadores das lides espíritas que, ao inverso, deveriam estar em condições felizes. O retorno de expressivo número deles ao Grande Lar tem sido doloroso e angustiante, conforme constatamos nas experiências vivenciadas em nossa Esfera de atividades fraternal e caridosa...”

Na questão novecentos e oitenta e dois de “O Livro dos Espíritos”, o ínclito Mestre Lionês indaga dos Espíritos Superiores se “será necessário que professemos o Espiritismo e creiamos nas manifestações espíritas para termos assegurada a nossa sorte na Vida Futura”.

Os Espíritos Amigos respondem que “se assim fosse, seguir-se-ia que estariam deserdados todos os que não creem. Só o bem assegura a sorte futura”.

Kardec aduz ainda o seguinte comentário:

“A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar, firmando-lhe as ideias sobre certos pontos do futuro. Apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas, porque faculta nos inteiremos do que seremos um dia. É um ponto de apoio; uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina o homem a suportar as provas com paciência e resignação; afasta-o dos atos que possam retardar-lhe a felicidade, mas ninguém diz que, sem ele, não possa ela ser conseguida”.

Mas perguntamos nós: Por que a felicidade e a ventura não estão sendo conquistadas “post mortem” “por incontáveis espíritas”?!...

A resposta está no tomo V da conclusão de “O Livro dos Espíritos”, onde Kardec ensina:

“(...) Três períodos distintos apresenta o desenvolvimento das ideias espíritasprimeiro, o da curiosidade, que a singularidade dos fenômenos produzidos desperta; segundo, o do raciocínio e da filosofia; terceiro, o da aplicação e das consequências. O período da curiosidade passou; a curiosidade dura pouco. Uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece com o que desafia a meditação séria e o raciocínio. Começou o segundo período, o terceiro virá inevitavelmente”.

Compreendemos, assim, que os nossos companheiros que estão desencarnando mal não conseguiram ultrapassar o primeiro período que é o da curiosidade. Não atingiram o segundo período que é o da filosofia e do raciocínio. O terrível e angustiante corolário disso é não alcançar o terceiro período que é o da aplicação e das consequências.

Tão rico de conteúdo é o livro “Tormentos da Obsessão” e tão oportunos seus ensinamentos, quanto estarrecedoras as suas revelações, que fica difícil selecionar entre tantos um pequeno trecho à guisa de amostragem. Sem embargo, optamos por extratar o que se segue, que na verdade é uma palestra feita pelo Dr. Ignácio Ferreira, que foi psiquiatra quando encarnado entre nós, domiciliado há dezenas de anos no Mundo Maior, acerca dos novos descortinos em torno da obsessão:

“A obsessão é pandemia que permanece quase ignorada embora sua virulência para a qual, na sua terrível irrupção, ainda não cogitaram os homens de providenciar vacinas preventivas ou terapias curadoras. Tão antiga e remota quanto a própria existência terrestre por decorrência das afinidades perturbadoras entre os homens — todos os Guias religiosos se lhe referiram com variedade de designações, sempre utilizando os mesmos métodos para a sua erradicação, tais: o amor, a piedade, a paciência e a caridade para com os envolvidos na terrível trama.  

Face à tendência para o envolvimento emocional com o mitológico, não poucas vezes têm confundido a revelação do fenômeno mediúnico com ideias de arquétipos que jazem semi-adormecidos no inconsciente, e que passam a ocupar as paisagens mentais, sem os correspondentes critérios de compreensão, para investir esforços na sua equação, desse modo transferindo-os para a galeria do fantástico e do sobrenatural.

Graças à valiosa contribuição científica do Espiritismo no laboratório da mediunidade, constatando a sobrevivência do ser e o seu intercâmbio com as criaturas terrestres, a obsessão saiu do panteão mítico para fazer parte do dia-a-dia de todos aqueles que pensam. Enfermidade de origem moral, exige terapêutica específica radicada na transformação espiritual para melhor, de todos aqueles que lhe experimentam a incidência.  Ocorre, no entanto, como é fácil de prever-se, que essa psicopatologia, qual sucede com outras tantas, sempre apresenta, no paciente que a sofre, graves oposições para o seu tratamento. Quando, ainda lúcido, o mesmo se recusa receber a conveniente orientação, e, à medida que se lhe faz mais tenaz, as resistências interiores se expressam mais vigorosas.  De um lado, em razão da vaidade pessoal, para não parecer portador de loucura, particularmente porque assim se sente, e, por outro motivo, quando sob os camartelos das obsessões, porque o agente do distúrbio cria dificuldades no enfermo, transmitindo-lhe reações violentas, para ser evitado o tratamento especial. Em todos os casos, porém, o tempo exerce o papel elevado de convencer a vítima da parasitose espiritual, através do padecimento ultriz, quanto à necessidade de submeter-se aos cuidados libertadores.

Iniciando-se de forma sutil e perversa, a obses­são, salvados os casos de agressão violenta, instala-se nos painéis mentais através dos delicados tecidos energéticos do perispírito até alcançar as estruturas neurais, perturbando as sinapses e a harmonia do conjunto encefálico. Ato contínuo, o quimismo neuronial se desarmoniza, face à produção desequilibra­da de enzimas que irão sobrecarregar o sistema nervoso central, dando lugar aos distúrbios da razão e do sentimento.   Noutras vezes, a incidência da energia mental do obsessor sobre o paciente invigilante irá alcançar, mediante o sistema nervoso central, alguns órgãos físicos que sofrerão desajustes e perturbações, registrando distonias correspondentes e comportamentos alterados.  Quando se trata de Espíritos inexperientes, perseguidores desestruturados, a ação magnética se dá automaticamente, em razão da afinidade existente entre o encarnado e o desencarna­do, gerando descompensações mentais e emocionais. Todavia, à medida que o Espírito se adestra no co­mando da mente da sua vítima, percebe que existem métodos muito mais eficazes para uma ação profunda, passando, então, a executá-la cuidadosamente. Ainda, nesse caso, aprende com outros compares mais perversos e treinados no mecanismo obsessivo as melhores técnicas de aflição, agindo conscientemente nas áreas perispirituais do desafeto, nas quais implanta delicadas células acionadas por controle remo­to, que passam a funcionar como focos destruidores da arquitetura psíquica, irradiando e ampliando o campo vibratório nefasto, que atingirá outras regiões do encéfalo, prolongando-se pela rede linfática a todo o organismo, que passa a sofrer danos nas áreas afetadas.

Estabelecidas as fixações mentais, o hóspede desencarnado lentamente assume o comando das funções psíquicas do seu hospedeiro, passando a manipulá-lo a bel-prazer. Isso, porém, ocorre, em razão da aceitação parasitária que experimenta o enfermo, que poderia mudar de comportamento para melhor, dessa forma conseguindo anular ou destruir as induções negativas de que se torna vítima. No entanto, afeiçoado à acomodação mental, aos hábitos irregulares, compraz-se no desequilíbrio, perdendo o comando e a direção de si mesmo.  Enquanto se vai estabelecendo o contato entre o assaltante desencarnado e o as­saltado, não faltam a este último inspiração para o bem, indução para mudança de conduta moral, inspiração para a felicidade... Vitimado, em si mesmo, pela autocompaixão ou pela rebeldia sistemática, desconsidera as orientações enobrecedoras que lhe são direcionadas, acolhendo as insinuações doentias e perversas que consegue captar.

Muita falta faz a palavra de Jesus no coração e na mente das criaturas humanas em ambos os lados da vida. Extraordinária fonte de sabedoria, as Suas lições constituem mananciais de saúde e de paz que plenificam, assim que sejam vivenciadas, imunizando o ser contra as terríveis perturbações de qualquer ordem.  Mas o mundo ainda não compreende conscientemente o significado do Mestre na sua condição de Modelo e Guia da Humanidade, o que é lamentável, sofrendo, as consequências dessa indiferença sistemática.

(...) Em toda parte está presente a misericórdia de Deus convidando ao bem, ao amor, à alegria de viver. A opção inditosa, no entanto, de grande número de criaturas é diversa dessa oferta, o que facilita a assimilação das ideias tenebrosas que lhe são dirigidas. Assim mesmo, ante a preferência das terríveis alucinações, o amor paira soberano aguardando, e quando não é captado, a dor traz de volta o calceta, encaminhando-o para o reto proceder mediante oportuno despertar.

(...) O Amor lecionado e exemplificado pelo Mestre é o bem eterno que sobrepaira em todas as situações, mesmo nas mais calamitosas, apontando rumos e abrindo espaços para a realização da felicidade total. Vivê-lo em clima de abundância, é o dever a que nos devemos propor, inundando-nos com a sua sublime energia que dimana de Deus, imunizando-nos, destarte contra os ataques dos inimigos da luz.

Finalizemos com as palavras do nobre Mentor Eurípedes Barsanulfo, pinçadas das páginas 255/256, onde ele fala sobre  o s   t r ê s   m o n t e s:

“Aquele que colocar a mão no arado e olhar para  trás,  não é digno do Reino de Deus.” - Jesus (Lucas., 9:62.)

"O carreiro carnal é sempre uma experiência de alto risco para quem deseja atingir as cumeadas da montanha das bem-aventuranças...  Recordando-nos do Mestre, constataremos que Ele venceu os três montes que O desafiaram: O Tabor, onde se transfigurou esplendente de beleza diante de Moisés e Elias, que vieram reverenciá-lO, bem como dos discípulos que ainda não tinham dimensão da Sua grandeza. Foi o monte da comunhão espiritual no seu senti­do mais elevado. O outro foi aquele no qual Ele cantou as bem-aventuranças, revolucionando os códigos de ética, de economia e de moral vigentes na sociedade, abrindo horizontes novos para o entendimento dos valores espirituais. E, por fim, o Gólgota, onde, aparentemente vencido, triunfou, imortal, colocando a ponte para a perpétua comunhão de todas as criaturas com o Pai. No primeiro, Ele desvelou-Se, no segundo estabeleceu as diretrizes do amor, e, no terceiro, viveu todos os ensinamentos que enunciou.

O Espírito reencarnado em tarefa libertadora sempre será chamado ao testemunho nos montes onde problemas equivalentes o aguardam: no primei­ro, deve dar a conhecer o objetivo a que se dedicará; no segundo, cabe-lhe traçar as linhas de comporta­mento que adotará, e no terceiro, vivê-las até o mo­mento final com equilíbrio e abnegação.

Não é demasiado, porque nunca faltará o apoio indispensável ao êxito, que procede do Mundo Espiritual vigilante e ativo. Eis porque, iniciada a tarefa na seara, ninguém deve olhar para trás”. 

Thiago Bernardes – Tormentos da obsessão – O Consolador – Nº 457 – 20/03/2016

Empatia - Crônicas da vida invisível

Naquele início de tarde morna, seguia o Amparador da vida invisível ao lado de duas das suas tuteladas naquele agrupamento familiar reencarnado, naturalmente despercebido, acompanhando a passos de passeio a jovem mãe ao lado da filha pequena que conduzia ao colégio, quando percebeu, agradavelmente surpreso, a aproximação de um seu companheiro nas lides de auxílio aos amigos na materialidade.

– Que faz por aqui, Cláudio?! Bom encontrar-te. Algum recado da Colônia?
Ao que o antigo amigo de muitos séculos respondeu, com a jovialidade que lhe era própria:

– Vinha mesmo ao teu encontro para combinar contigo umas tantas coisas, sabendo-te ocupado com a tua missão diária na residência dos teus afetos reencarnados; a meio caminho, todavia, notei algo urgente e acorri até aqui para avisar-te, sabendo como sei com algum acerto das rotinas do teu dia...

O outro olhou-o, entre agradecido e surpreendido, convidando-o a acompanhá-los no percurso que seguia junto às protegidas entretidas, àquela altura, em desanuviado diálogo sobre os acontecimentos da manhã finda.

– A que te referes? Algum problema?

– Não exatamente... – o outro se apressou em esclarecer, prestimoso – Mas é preciso que arranjes um jeito de deter os passos das tuas assistidas durante uns poucos momentos...

– Por quê? – quis saber o Amparador, curioso.

– Tu o pressentirias com facilidade tão logo atingissem a próxima via transversal, todavia, deixemos os comentários e explicações para daqui a pouco. Por favor, apresse-se...

E em notando que o aludido cruzamento de avenidas já vinha bem próximo, de pronto o amigo do plano espiritual da vida gastou breve intervalo consultando atentamente os arredores, a fim de que algo oportuno lhe ocorresse, assim como o denodado recém-chegado.

De repente, apondo afavelmente a mão na altura da nuca da moça, sussurrou-lhe algo, carinhoso, à audição espiritual:

– Olhe só: o galho desta árvore aí está quase caindo!...

Tamanha era a empatia entre Amparador e assistida, que na mesma hora a jovem alçou a vista, aparentemente ao acaso, para o arvoredo compacto mais a frente da calçada por onde passava com a criança, detendo-se no passo apressado com que avançavam.

– Olhe, filha! Aquele galho lá em cima está arriscando cair! Que perigo! Está podre!

Ao que a menininha, surpreendida com o comentário e curiosa como toda criança, imediatamente atendeu ao apelo materno, levantando também o rostinho sério.

– Cadê?! Onde, mamãe?!...

A mãe apontou.

– Lá! Olhe!...

Ao lado, os dois amigos da invisibilidade trocaram um olhar entre divertido e aliviado.

A menininha ainda se demorou com os olhos na árvore frondosa durante um bom tempo, acabando mesmo por causar certa impaciência na mãe que, pressurosa com o horário de entrada da pequena na escola, se pôs a apressá-la:

– Chega, filhinha! Já viu! Quer se atrasar?

– Ah, agora eu vi! Eu quero ver mamãe, que coisa!...

E gastou-se alguns instantes a mais no impasse até que afinal mãe e filha retomaram o trajeto calmamente, ladeadas pelos assistentes despercebidos que as acompanhavam agora entretidos em palestra reservada a respeito do incidente.

– Que foi, afinal, que o compeliu a esta providência, Cláudio? Não pode me dizer agora?...

Não se faria necessário, porém, nenhum esclarecimento. Porque já atingiam a esquina aludida quando, e antes que se aproximassem o suficiente do meio-fio, inaudita explosão sobressaltou a todos que transitavam nas proximidades, no trecho de calçada adiante, espalhando fumaça para todo lado.

A jovem deteve a criança pela mão com enérgica firmeza, espantada, esquadrinhando, indócil. Outras pessoas se distanciaram, cautelosas – enquanto alguns homens, diante de uma padaria, e entretidos com algum aparente reparo de maquinaria desconhecida em local inadequado, qual fosse aquele onde se achavam, bem no meio do caminho dos transeuntes numerosos da rua, saltavam também, em sobressalto, para se porem a salvo da inesperada explosão.

O Amparador olhava a cena quedo em admiração, ao lado do amigo agora reconfortado por levar a bom termo a sua missão; e prosseguiram, bem dispostos e externando evidente satisfação, seguindo a moça que agora puxava a menininha para contornar o trecho arriscado do trajeto, a fim de efetuar a travessia pretendida num outro ponto mais afastado – enquanto os homens ainda agitavam-se, confabulando em barulhenta exaltação, atribulados em dispersar a fumaça espessa.

Aquele era mais um episódio ilustrativo de que possuímos na vida espiritual mais amigos do que jamais imaginaríamos durante o período transitório de obscurecimento da memória no corpo material – amigos responsáveis por muitos desses momentos nos quais os seus avisos providenciais fazem com que apenas dois casuais minutos valham nada menos do que a preservação de duas vidas...

Christina Nunes – Crônicas da vida invisível – O Consolador – Nº 51 – 13/04/2008

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Empatia - Não violência, perdão e comunicação compassiva

  [Jesus] “Condena, por conseguinte, a violência, a cólera e até toda expressão descortês 
de que alguém possa usar para com seus semelhantes.” – Allan Kardec (1)

JESUS ENSINAVA A NÃO VIOLÊNCIA

Considero Jesus um pacificador por excelência, talvez ainda incompreendido por muitos cristãos no mundo em que vivemos. Sua postura de acolhimento dos excluídos e estigmatizados, de radical crítica à hipocrisia e à exploração religiosa era uma afronta pacífica à visão de mundo exclusivista e sectária presente no seio da sociedade onde escolhera reencarnar.

Em seus ensinos condenara qualquer forma de violência ao próximo, da verbal à física, e estabelecera como fundamentos de sua doutrina o amor ao Pai Celeste e ao próximo (2). Para ele o comportamento reto deveria se orientar na justa medida (3) e o caminho de elevação espiritual deveria ser trilhado pelo interessado, mediante o trabalho de aquisição do conhecimento a respeito das coisas do Reino (4), objetivo maior da existência.

No conjunto de propostas de Jesus de Nazaré estava o revolucionário perdão. (5) Revolucionário porque a justiça dos homens de sua época ainda se estruturava no “olho por olho, dente por dente” (6) levando-se o ofensor ou agressor a sofrer pelas mãos dos homens aquilo que imputara às suas vítimas. Isso era legal e moral no tempo de Jesus, vejamos o nosso atraso espiritual naqueles tempos.

O PERDÃO COMO PRÁTICA RESTAURATIVA

O perdão viria como alternativa a ser aplicada no cotidiano, nas questões mais simples, até os conflitos entre os grupamentos humanos, os mais distintos. Surgia, então, uma proposta de ruptura com o vicioso ciclo da violência, para a construção de um circuito virtuoso de justiça e restauração das relações sociais em termos pacíficos.

Sabedor do princípio da pluralidade das existências, o Mestre de Nazaré vinha propor a interrupção dos resultados funestos da violência que se estenderiam nas vidas sucessivas de Espíritos até então beligerantes, por isso postulava a reconciliação com o adversário como compromisso superior à adoração a Deus (7), enquanto transitássemos pelos caminhos terrenos com aquele.

A reconciliação só é possível com o perdão. O perdão liberta o ofensor da dívida contraída e o ofendido do desejo de vingança ou justiça com base em seus parâmetros pessoais, estabelecendo para ambos um novo rumo, pautado na ética da compreensão que, por sua vez, conduz ao exercício da indulgência com os limites alheios e à reparação da falta perpetrada pela prática do bem.

Claramente, o perdão consiste numa atitude não violenta porque preconiza o desapego da ânsia por uma resposta ao ofensor na mesma medida e provoca a liberação do hábito infeliz de julgar o próximo, que consiste, conforme os estudos de Comunicação Não Violenta (CNV) do psicólogo Marshall Rosenberg (8), numa forma de violência e de atitude sem empatia e compaixão, fechada ao encontro com o próximo.

Nem sempre é possível concretizar uma reconciliação efetiva, transformando os vínculos que enfermaram em algo saudável, mas, superar o impulso agressivo, o desejo de vingança ou de manutenção de uma querela interminável, que só nos atrasa espiritualmente, já é um bom sinal de progresso moral em nosso roteiro. Destaquemos que perdoar, na perspectiva kardequiana, é responder o mal que nos fizeram com o bem, esquecendo a falta, quer dizer, desconsiderando-a.

Treinar o perdão exige atenção quanto às nossas atitudes e uma escuta compassiva, na vida de relação, para que compreendamos as necessidades do outro. Para o criador da CNV, toda a atitude violenta revela uma necessidade não atendida, diríamos nós, um sofrimento camuflado que aturde o ofensor enredado na ausência de lucidez ante a sua dor.

Aliás, muito do nosso modo de nos comunicarmos é alienante, sem empatia ou compaixão pelo sofrimento alheio. Culturalmente e através da má-educação aprendemos a desenvolver um jeito de falar e manifestar nossos anseios de forma entrecortada por arroubos de cólera, expressões grosseiras ou impaciência, que evidenciam o nosso estágio de Espíritos inferiores.

Recordemos que no contexto do diálogo com os Espíritos, Kardec dissera que a linguagem revela o lugar dos mesmos na escala espírita. Trazido para a questão do nosso modo de nos comunicarmos, no mínimo, é um belo alerta para ser considerado, especialmente, nesses dias de transição planetária em que somos chamados a contribuir em prol de nossa própria ventura, levando em conta a afirmação de Jesus: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”.(9)

UM PASSO PARA A PAZ

Um passo importante para a edificação da paz em nosso cotidiano, lugar onde ainda cultivamos a violência, está na possibilidade de superarmos a forma de comunicação alienante que aprendemos pelo exercício da CNV, ou de algum método que nos ensine um modo mais amoroso de nos expressarmos. A comunicação alienante é aquela destituída de empatia, quero dizer, sem a “compreensão respeitosa sobre o que os outros estão passando”.(10)

Mas, quando falamos sem compaixão? Numa síntese do que  ensina Marshall (11), podemos dizer: exatamente quando nossas conversas se traduzem em julgamentos a respeito dos outros; analisamos a vida alheia sob o nosso prisma pessoal, a partir de nossas necessidades e valores; no instante em que classificamos os sujeitos e estabelecemos comparações; se negamos a nossa parcela de responsabilidade quanto ao que fazemos e seu efeito para o próximo; ou, ainda, quando a nossa fala apresenta exigências para com as pessoas com que nos relacionamos.

A superação de uma fala nada compassiva está em nos apropriarmos de outra perspectiva, de uma fala generosa e não violenta que possa traduzir com serenidade nossos sentimentos ou necessidades. Pode parecer uma leitura romântica dos conflitos humanos, mas se aprendermos a nos comunicar em paz – a CNV é uma bela ferramenta nesse sentido – seremos capazes de multiplicar um modo de ser e estar no mundo que rompa paulatinamente com o paradigma incrustado em nosso psiquismo de dominação, competição e negação da diferença, por isso, fomentador da violência em suas diversas faces.

Na Filosofia Espírita, aprendemos com os Imortais que o conhecimento de si mesmo é a chave do progresso moral do Espírito (12). Conheçamo-nos e verifiquemos quanto de energia de violência carregamos em nós e se estamos, de fato, desejosos de fazer que a Terra seja um dia uma morada de paz.

Vinícius Lima Lousada – Não violência, perdão e comunicação compassiva
                                                                             – O Consolador – Nº 404 – 08/03/2015

(1). Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, (cap. XI), (Item 4.)

(2). Mateus (22: 34 a 40).

(3). Lucas (6:31).

(4). Mateus (6:19)

(5). Mateus (6: 14 e 15)

(6). Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, (cap. XII, item 8.)

(7). Mateus (5: 23 e 24) 

(8). Rosenberg Marshall, comunicação não violenta: técnica para aprimorar
       relacionamentos pessoais e profissionais. 

(9). Mateus (5:9)

(10). Rosenberg, idem, (p. 150).

(11). Rosenberg, idem, (p. 48).

(12). Kardec Allan, O Livro dos Espíritos, (questão 919-a.)












 

Empatia - A característica evangélico-cristã do Espiritismo

  "Nunca, quanto ocorrem nestes dias, a vivência da mensagem evangélica 
se faz tão necessária.” - Joanna de Ângelis

 Segundo o nobre mentor Vianna de Carvalho (1), “ainda repontam, hoje, nos arraiais dos honestos investigadores da sobrevivência do Espírito, certa ojeriza pelo ensino evangélico, asseverando – indóceis e invigilantes – que é desnecessária a vivência do Evangelho para a felicidade do homem. Porque os seus conceitos remanesçam fixados às informações religiosas ortodoxas não se tendo permitido maior estudo e reflexão nos ensinos morais profundos da Boa Nova sob a angulação luminescente do Espiritismo, afirmam que o comportamento evangélico é pieguista, dando origem a personalidades fracas, dúbias..
.
Muito fácil, no entanto, a posição agressiva, reacionária, acrimoniosa. A resistência pacífica e branda, a perseverança nos ideais superiores sem alarde nem explosões de estoicismo exterior é muito exigente, impondo maior dose e coragem e de abnegação moral do que pode parecer. A Doutrina Espírita – por isso mesmo – pode ser considerada como a Renascença do Cristianismo Primitivo, trazendo de volta a emulação corajosa dos "homens do caminho", a estesia sacrificial que caracterizou os lídimos servidores das horas primeiras, produzindo-lhes nas almas uma imediata transformação para melhor.

O Espiritismo reacende nas almas a empatia da fé, fortalecendo – realmente – o homem para enfrentar as vicissitudes, em decorrência do seu ensino vivo da Imortalidade, resultando o comportamento moral e a experiência filosófica da criatura então, interiormente, iluminada.

A dor, que sobrenada nas caudais da miséria como nas expressões da abundância econômica, tem sido um desafio ainda não enfrentado, para o vigoroso combate ao comando do amor, da fé e da razão. Ao Espiritismo está reservado esse cometimento que já se inicia...

(...) Não obstante transcorridos vinte séculos, as lições incomparáveis do Cristo prosseguem com atualidade comovedora. A história do pensamento experimentou várias tentativas nos diversos campos do conhecimento, ora adicionando ou não experiências, à medida que desprezava conceitos que se esvaziavam de conteúdo, superava escolas de realizações sem estrutura legítima, caldeando informações e elaborando princípios válidos por uns tempos, noutros desconsiderados, enquanto a palavra-roteiro do Messias Divino continua hoje imperiosa e oportuna quanto o fora no momento em que enunciada.

Esse valioso conteúdo permanece inalterado, diretriz e medicamento para as angústias do coração e as incertezas, intranquilidade da mente...

Os pesquisadores da ciência e os filósofos negadores, embora tentando substitutivos para o Espiritualismo, alegando a imperiosa urgência em destruir a esperança na Imortalidade da alma, esbarram, por mais cépticos, nas claridades meridianas e consoladoras do Além-Túmulo, bem como da sempre nova mensagem cristã, insuperável, oportuna”.

Continua o nobre Mentor (2):

"Todas as religiões estabeleceram os seus postulados em dogmas de fé inamovíveis. Allan Kardec, porém, traduzindo o pensamento do Cristo, fundamentou a Religião Espírita nos códigos da razão insculpidos na consciência individual do homem; todos os pensadores se preocuparam em solucionar a problemática do homem, criando escolas de conhecimento e engendrando sistemas que objetivam combaterem-se uns aos outros. Allan Kardec, todavia, refundiu os conceitos idealistas de Sócrates e Platão, erguendo um monumento granítico em linhas morais, apoiado nos alicerces dos fatos; todos os pesquisadores da Ciência partiram da premissa na busca infatigável da demonstração. Allan Kardec, sem embargo, mergulhou no oceano infinito dos fatos, deles extraindo a grandiosa constelação de luzes e experimentações que constitui a Ciência Espírita; todos os religiosos sempre afirmaram a Imortalidade da alma, sem terem como prová-la. Allan Kardec, entretanto, partindo da observação, comprovou a imortalidade pelos métodos vigentes de demonstração, elucidando as leis que regem o intercâmbio entre o mundo físico e o mundo espiritual.

A reencarnação sempre esteve presente nas experiências e informações extrafísicas dos séculos como chave da incógnita dos sofrimentos humanos. Allan Kardec, contudo, conseguiu, a expensas do Mundo Espiritual que o assistia, extrair os fundamentos éticos relevantes para a felicidade do homem, nos conceitos reencarnacionistas, estribando, no Evangelho, a rota de segurança, única, aliás, propiciatória para colimarem-se as metas evolutivas.

Todos os tratados de Filosofia têm sido apresentados em linguagem complexa, somente compreensível pelos especialistas e estudiosos... Allan Kardec, porém, conseguiu debater e estudar os pontos capitais do pensamento universal em linguagem simples, compatível com a mente do povo, sem esquecer as inteligências brilhantes, a todos franqueando devassar os umbrais da Imortalidade à luz da Codificação.

Todos os militantes das religiões e das filosofias procuraram definir Deus ou negá-lO.  Allan Kardec, a exemplo de Jesus, apresentou o Criador, na Criação, e a Divindade manifesta nos Seus atributos de grandeza e magnitude, sem insistir em definir o Indefinível."
O Espiritismo materializou na Terra a promessa de Jesus sobre "O Consolador", que viria mais tarde a Seu pedido, ensinar-nos “todas as coisas, lembrar as que Ele ensinara e ficar conosco para sempre."

Afirma o ínclito Mestre Lionês (3): "O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo alude em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.

A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da Lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera.

Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução". Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo, mas desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas em termos alegóricos".  

Como, pois, podemos pensar em separar o Espiritismo do Evangelho de Jesus?! Seria incoerência... As palavras de Jesus não passarão e o Espiritismo, limpando-as das cinzas dos dogmas ancilosados, emancipando-as dos prejuízos acrescentados pelos interesses subalternos dos homens, dá a sua mensagem de Luz e Vida, religando o homem ao Criador, fazendo-o identificar-se com a sua natureza cósmica, eterna...

Por tudo isso, estamos com Hermínio C. Miranda quando afirma parafraseando o Apóstolo dos Gentios (4) “(...) Dos três aspectos do Espiritismo: Ciência, Filosofia e Religião, o mais excelente de todos é o aspecto religioso”.

A Ciência e a Filosofia Espíritas nos conduzem com segurança pelos meandros dos conhecimentos científicos terrestres, a Religião Espírita permite-nos alçar voos transcendentais rumo aos cimos gloriosos da Espiritualidade, manancial inesgotável e imarcescível da Luz Divina.

Rogério Coelho – A característica evangélico-cristã do Espiritismo
                                                                             – O Consolador – Nº 225 – 04/09/2011

(1). Djalma Santos, Sementes da Vida Eterna, (pags. 9-15), (Psicografia Divaldo Franco)

(2). Djalma SantosSementes da Vida Eterna, (cap. I), (Psicografia Divaldo Franco)

(3). Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, (cap. I, itens 5 a7.)

(4). Miranda Hermínio C., Apóstolo dos Gentios, (vol. I, prefácio.) 

Empatia - O fim último da arte é ...

“A Arte espírita é uma ferramenta de educação e não diversão, devemos encará-la como um excelente instrumento que de forma muito sutil consegue mudar a nossa forma de ver e agir sobre o mundo despertando no espectador importantes reflexões.” (Fabrício Alexandre Sanas, nosso entrevistado nesta edição.)

No Espiritismo, a arte é uma ferramenta. Não tem a si mesma como fim.

Ferramenta de educação, jamais poderá ser simples instrumento de diversão ou de passatempo, porque seu objetivo é, em última análise, educar os sentimentos.

O fim último da arte é mostrar o que o homem realmente é. Criando empatia, os personagens retratam comportamentos que são como espelhos, que são instrumentos de identificação.

A arte espírita deve ter uma linguagem livre de preconceitos. E deve, na medida do possível, apresentar-se de forma leve, agradável, facilitando o entendimento.

Muitas vezes, as pessoas, como num espelho ou identificação, despertam no outro sentimentos esquecidos.

Para ser mais bem compreendida, a arte deve manifestar de forma simples o conteúdo, para que este seja corretamente assimilado e interpretado. O que se quer atingir é a sensibilidade do espectador, sensibilidade que é manifestada por sua percepção do que vê e do que sente.

“Sim, aceitar o outro como ele é com seus pontos positivos e negativos. Através da arte é possível desenvolver sem imposição esta capacidade pelo simples fato de que preciso respeitar o outro para que possa me comunicar com ele e atingir o objetivo proposto.” (Fabrício Alexandre Sanas)

Os comportamentos bons ou maus devem ser acolhidos com indulgência, aceitando-se as pessoas como elas são. Isso porque, como sabemos, devemos agir sempre com benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros e perdão irrestrito.

“A Arte nos permite emocionar, a nós e os outros. É muito comum as pessoas ouvirem uma música e verterem lágrimas, ouvir um texto já conhecido e ter uma outra perspectiva devido à forma, olhar o palhaço e lembrar de como é possível ser feliz através da simplicidade. Algo interessante é como as pessoas reagem diante da arte, nossos sentimentos são sufocados pelas adversidades, dificuldades da vida.” (Fabrício Alexandre Sanas)

Simplicidade é uma virtude essencial que consiste em desapego e desinteresse material.

O homem simples comunica-se com os outros segundo a disciplina dos próprios pensamentos, atitudes e palavras.

Sabe contornar o complexo, sem ferir o amor-próprio do interlocutor.

Sabe que seremos julgados segundo nossas atitudes.

E busca geralmente colocar-se no último lugar, porque vive sempre feliz, seja nas experiências dolorosas, seja nos dias de bonança, que compõem as diferentes etapas de uma existência corpórea no mundo em que vivemos.

Editorial – O fim último da arte é ... – O Consolador – Nº 498 – 08/01/2017


Empatia - Autoevangelização e empatia

 “Antes sede uns para com os outros benignos.” - Paulo (1)

No dia a dia, somos impelidos a diferentes ações para avançarmos no caminho: sentimos, estudamos, ensinamos, trabalhamos, falamos, conhecemos etc. Todavia, é importante que cada uma dessas ações seja realizada com clareza a fim de ser aproveitada ao máximo, para que não se perca a oportunidade.

Emmanuel lembra, por exemplo, “que é preciso estudar com clareza para aprender com entendimento”; “conhecer discernindo para ensinar com bondade” (2). Não é difícil entender essas colocações porque, diariamente, todos nós somos constrangidos à ação, e é pelo que fazemos que cada um de nós estará decidindo sobre seu destino. Ascender à luz ou descer à treva é escolha individual e intransferível.

A vida é constituída de pontos de vista, sabemos nós, como também não ignoramos que ponto de vista não representa a verdade total, real. Por isso mesmo, ela, a vida, constitui-se em uma trincheira de lutas, uma vez que muitos buscam defendê-la de forma desesperadora.

Os convites de Jesus tornam-se, assim, um mergulho real dentro de nós para mostrar, a nós mesmos, a nossa posição diante da luz, diante da verdade – ponto de vista ou realidade total? –, e esse mergulho só terá sentido se pretendermos, efetivamente, entender o porquê da vida, com o objetivo claro de crescer em serviço e burilamento constantes. (3)

O direito inalienável de escolhermos o bem e o mal, o certo e o errado, a luz e a treva nos é dado por misericórdia divina e, também, com ele nos é concedida a oportunidade de conhecer a solidariedade, a fraternidade e a harmonia. Nossa busca nesse terreno de batalhas, de posse desses recursos, é o conhecimento dessa verdade total, real, com a harmonia e com as esferas superiores. No dia em que conquistarmos isso, teremos aprendido a executar, com fidelidade, o pensamento de Jesus. Estaremos integrados, através do coração e da razão, aos preceitos morais do Evangelho.

Penetrar nessa verdade é compreender as obrigações que nos competem, renovando o próprio entendimento, transformando esse campo de batalha, em que mergulhamos para defender pontos de vista individuais ou grupais em campo de responsabilidade com a melhor ação, pequena ou grande, do copo de água pura ao silêncio contra o mal, do favor gratuito de algumas moedas ao livro nobre dado com amor. Tudo é trabalho. Tudo é ação no bem. (4)

Hoje, vivendo cada um no seu campo de lutas acerbas, mostra-se que o Evangelho está deturpado em nossas mentes: forte é quem esmaga o fraco; humilde é quem se deixa humilhar; inteligente é quem age com esperteza e enganação; o não matarás está longe do entendimento verdadeiro, porque permanecemos matando sonhos, esperanças, os bens da Natureza... Todavia, ele é claro e seguro em suas afirmações. É o código de conduta, por excelência, que nos garante um caminhar sem tropeços.

Judiciosamente, o apóstolo Paulo nos deixa a lição: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é em vão”. (I Coríntios, 15:58.)

Leda Maria Flaborea – Autoevangelização e empatia – O Consolador – Nº 421 – 07/07/2015

Bibliografia:

(1). Paulo (Efésios, 4:32.)

(2). Emmanuel, Livro: Palavras da Vida Eterna, (lição 44), (Chico Xavier)

(3). Emmanuel, Livro: Fonte Viva, (lição 173), (Chico Xavier)

(4). Emmanuel, Livro: Vinha de Luz, (lição 39), (Chico Xavier)




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Empatia - Velha dica, sempre esquecida

  As instituições espíritas estão vivendo momento difícil de sua história: a sensibilização geral da própria família espírita para o efetivo...